Drauzio Varella esclarece mitos
sobre contágio do vírus da Aids Trinta anos após surgimento da doença, o
médico vai explicar...que serviu de cativeiro. Trinta anos depois do surgimento
da Aids, o Dr. Drauzio Varella tira as dúvidas que ainda existem na...
Fantástico | Última atualização:
21/01/2011 00h00
Em São
Paulo, funcionava o maior presídio da América Latina, o Carandiru. Mais de sete
mil homens. Ali, durante 13 anos, o Dr. Drauzio Varella acompanhou doentes com
AIDS: 17% dos detentos eram portadores do HIV.
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A cocaína injetada na veia era a droga da moda. Seringas e agulhas passavam de mão em mão. Sem acesso à camisinha, nas visitas íntimas, os presos infectados transmitiam o vírus para suas mulheres. O cenário era desolador, dentro e fora da cadeia.
O primeiro caso de Aids no Brasil foi diagnosticado em 1982. A partir deste ano, o número de mortes começou a subir assustadoramente. Os primeiros pacientes nem sabiam que o HIV existia. De repente, caíam doentes, com infecções que se repetiam uma depois da outra até a morte.
“Nós infectologistas sempre tivemos a possibilidade de tratar e curar pessoas. De repente, uma geração toda morreu nas nossas barbas. Nós não tínhamos medicamentos, estávamos aprendendo a tratar as infecções e foram perdas que causaram um desgaste emocional e pessoal muito grande para cada um de nós. Acho que todos nós deixamos de ser onipotentes”, admite o Dr. David Uip.
“Quando eu me infectei, há 18 anos, a gente ficava só esperando o dia de morrer. A gente só falava ‘Quando é que vai ser a minha vez?’ .Tanto que nós tínhamos um grupo de teatro para falar sobre o preconceito que a gente vivia e como isso nos matava mais rápido. Aí, o grupo de teatro acabou porque todos morreram”, relata a ativista Nair Britto.
Até a metade dos anos 1990, o preconceito contra a Aids e o alto custo do tratamento tornavam a vida dos doentes muito difícil. A situação só melhorou quando os portadores do vírus decidiram se organizar, mostrar o rosto e exigir que o estado garantisse o acesso aos medicamentos mais modernos.
“Eu fui parar em uma conferência no Canadá. Uma conferencia de Aids, internacional. E lá eu descobri que tinha remédio, que a gente podia tomar e viver mais. Aí, quando cheguei aqui no Brasil, em 1996, eu entrei na Justiça e consegui que um juiz percebesse a importância de eu ter esse acesso e concedeu uma liminar. Foi a primeira liminar que concedeu medicamento para Aids a uma pessoa”, conta Nair.
Nair estava desesperançada e lutar por estes direitos foi a forma que encontrou para seguir vivendo. Graças à ação de pessoas como ela, no Brasil, milhares de vidas foram salvas.
“Outras pessoas também foram buscar na Justiça esse direito, acabou que houve uma avalanche de ações e aí virou política universal de acesso a todo mundo. Acho que a força desta conquista foi tão grande que eu acabei vivendo”, se orgulha a ativista.
O programa brasileiro de combate a Aids reduziu muito o número de mortes. Em 1997, foi criada uma lei que garante o acesso de todos os brasileiros aos medicamentos contra o vírus.
O Brasil enfrentou a resistência de países como Alemanha, Suíça e EUA, onde estão os maiores laboratórios do mundo, mas conseguiu aprovar a declaração que permite a quebra de patentes de remédios para proteger a saúde pública, combater epidemias de doenças como Aids, tuberculose e malária e garantir que a população tenha acesso a medicamentos essenciais.
As políticas públicas brasileiras servem de exemplo para o mundo inteiro, mas, infelizmente, o preconceito da sociedade ainda persiste. A carioca Mara, evangélica, casou virgem aos 18 anos e foi infectada nas primeiras relações com o marido.
“Foi difícil entender como seria minha vida daquele momento em diante e fiquei sete anos sozinha, achando que era aquilo que Deus queria para minha vida. Então, já que Ele tinha levado meu primeiro esposo, eu achava que ia ser essa a realidade para minha vida daquele momento em diante. Aí eu conheci o Evandro através de torpedos, uma brincadeira em um site de relacionamento, onde a gente trocava mensagens, mais de 100 mensagens por dia. Ficamos longos três meses nos conhecendo através de torpedos. No nosso quinto encontro, eu falei para ele que eu era soropositiva porque eu tinha me infectado no meu primeiro casamento. No dia seguinte ao encontro, ele não mandou nenhum torpedo até 17h. Eu fiquei desesperada, eu falei : ‘nossa, eu acho que ele pensa que pega Aids através de torpedo, só pode ser’”, lembra Mara.
“Às 17h, eu tomei coragem, telefonei e perguntei por que ele não tinha mandado um torpedo, que se ele não quisesse ser meu amigo, eu ia entender. Ele disse: ‘não, Mara, eu estou trabalhando muito, eu estou no meu plantão. Daqui a pouco eu te mando uma mensagem’. E eu fiquei na expectativa de qual seria aquela mensagem”, conta.
“Em um primeiro momento, eu tomei um choque, fui educado ao falar, mas me choquei sim”, reconhece Evandro Trajano da Silva, companheiro de Mara.
O HIV não é transmitido pelo aperto de mão, pelo beijo ou por contato com objetos pessoais, como toalhas, talheres ou copos. Nem quando uma gota de sangue infectado cai sobre a pele íntegra.
“É obvio que a gente ainda vai ter desigualdade e preconceito, mas eu acho que hoje está todo mundo parando, nem que seja um pouquinho, para pensar sobre isso e eu acho que a gente vai construindo uma sociedade melhor, um mundo melhor. Essa é a minha visão de presente. E a minha visão de futuro é a cura. E a cura não só do vírus, mas a cura mesmo dessa ideia de exclusão, que eu acho que é a que dói mais”, afirma Nair Brito.
“Depois de muita reflexão eu pensei e vi que não tinha nada a ver, que eu poderia sim ter um relacionamento com ela, independentemente de ela ser soropositivo ou não”, relata Evandro.
“E às 18h, quando ele saiu do plantão, ele mandou uma mensagem que dizia o seguinte: ‘Mara, não é porque eu descobri que a rosa tem espinhos que eu vou deixar de admirar sua beleza e o seu perfume’”, conta Mara.
A cocaína injetada na veia era a droga da moda. Seringas e agulhas passavam de mão em mão. Sem acesso à camisinha, nas visitas íntimas, os presos infectados transmitiam o vírus para suas mulheres. O cenário era desolador, dentro e fora da cadeia.
O primeiro caso de Aids no Brasil foi diagnosticado em 1982. A partir deste ano, o número de mortes começou a subir assustadoramente. Os primeiros pacientes nem sabiam que o HIV existia. De repente, caíam doentes, com infecções que se repetiam uma depois da outra até a morte.
“Nós infectologistas sempre tivemos a possibilidade de tratar e curar pessoas. De repente, uma geração toda morreu nas nossas barbas. Nós não tínhamos medicamentos, estávamos aprendendo a tratar as infecções e foram perdas que causaram um desgaste emocional e pessoal muito grande para cada um de nós. Acho que todos nós deixamos de ser onipotentes”, admite o Dr. David Uip.
“Quando eu me infectei, há 18 anos, a gente ficava só esperando o dia de morrer. A gente só falava ‘Quando é que vai ser a minha vez?’ .Tanto que nós tínhamos um grupo de teatro para falar sobre o preconceito que a gente vivia e como isso nos matava mais rápido. Aí, o grupo de teatro acabou porque todos morreram”, relata a ativista Nair Britto.
Até a metade dos anos 1990, o preconceito contra a Aids e o alto custo do tratamento tornavam a vida dos doentes muito difícil. A situação só melhorou quando os portadores do vírus decidiram se organizar, mostrar o rosto e exigir que o estado garantisse o acesso aos medicamentos mais modernos.
“Eu fui parar em uma conferência no Canadá. Uma conferencia de Aids, internacional. E lá eu descobri que tinha remédio, que a gente podia tomar e viver mais. Aí, quando cheguei aqui no Brasil, em 1996, eu entrei na Justiça e consegui que um juiz percebesse a importância de eu ter esse acesso e concedeu uma liminar. Foi a primeira liminar que concedeu medicamento para Aids a uma pessoa”, conta Nair.
Nair estava desesperançada e lutar por estes direitos foi a forma que encontrou para seguir vivendo. Graças à ação de pessoas como ela, no Brasil, milhares de vidas foram salvas.
“Outras pessoas também foram buscar na Justiça esse direito, acabou que houve uma avalanche de ações e aí virou política universal de acesso a todo mundo. Acho que a força desta conquista foi tão grande que eu acabei vivendo”, se orgulha a ativista.
O programa brasileiro de combate a Aids reduziu muito o número de mortes. Em 1997, foi criada uma lei que garante o acesso de todos os brasileiros aos medicamentos contra o vírus.
O Brasil enfrentou a resistência de países como Alemanha, Suíça e EUA, onde estão os maiores laboratórios do mundo, mas conseguiu aprovar a declaração que permite a quebra de patentes de remédios para proteger a saúde pública, combater epidemias de doenças como Aids, tuberculose e malária e garantir que a população tenha acesso a medicamentos essenciais.
As políticas públicas brasileiras servem de exemplo para o mundo inteiro, mas, infelizmente, o preconceito da sociedade ainda persiste. A carioca Mara, evangélica, casou virgem aos 18 anos e foi infectada nas primeiras relações com o marido.
“Foi difícil entender como seria minha vida daquele momento em diante e fiquei sete anos sozinha, achando que era aquilo que Deus queria para minha vida. Então, já que Ele tinha levado meu primeiro esposo, eu achava que ia ser essa a realidade para minha vida daquele momento em diante. Aí eu conheci o Evandro através de torpedos, uma brincadeira em um site de relacionamento, onde a gente trocava mensagens, mais de 100 mensagens por dia. Ficamos longos três meses nos conhecendo através de torpedos. No nosso quinto encontro, eu falei para ele que eu era soropositiva porque eu tinha me infectado no meu primeiro casamento. No dia seguinte ao encontro, ele não mandou nenhum torpedo até 17h. Eu fiquei desesperada, eu falei : ‘nossa, eu acho que ele pensa que pega Aids através de torpedo, só pode ser’”, lembra Mara.
“Às 17h, eu tomei coragem, telefonei e perguntei por que ele não tinha mandado um torpedo, que se ele não quisesse ser meu amigo, eu ia entender. Ele disse: ‘não, Mara, eu estou trabalhando muito, eu estou no meu plantão. Daqui a pouco eu te mando uma mensagem’. E eu fiquei na expectativa de qual seria aquela mensagem”, conta.
“Em um primeiro momento, eu tomei um choque, fui educado ao falar, mas me choquei sim”, reconhece Evandro Trajano da Silva, companheiro de Mara.
O HIV não é transmitido pelo aperto de mão, pelo beijo ou por contato com objetos pessoais, como toalhas, talheres ou copos. Nem quando uma gota de sangue infectado cai sobre a pele íntegra.
“É obvio que a gente ainda vai ter desigualdade e preconceito, mas eu acho que hoje está todo mundo parando, nem que seja um pouquinho, para pensar sobre isso e eu acho que a gente vai construindo uma sociedade melhor, um mundo melhor. Essa é a minha visão de presente. E a minha visão de futuro é a cura. E a cura não só do vírus, mas a cura mesmo dessa ideia de exclusão, que eu acho que é a que dói mais”, afirma Nair Brito.
“Depois de muita reflexão eu pensei e vi que não tinha nada a ver, que eu poderia sim ter um relacionamento com ela, independentemente de ela ser soropositivo ou não”, relata Evandro.
“E às 18h, quando ele saiu do plantão, ele mandou uma mensagem que dizia o seguinte: ‘Mara, não é porque eu descobri que a rosa tem espinhos que eu vou deixar de admirar sua beleza e o seu perfume’”, conta Mara.
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